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Reagrupamento Nacional: Como a extrema direita francesa remodelou sua imagem e ameaça chegar ao poder

Marine Le Pen e Jordan Bardella são um dos principais arquitetos por trás da grande mudança, responsáveis por ‘desdemonizar’, fazer uma limpeza interna e dar um novo rosto à sigla

Por décadas, o Reagrupamento Nacional foi o pária da política francesa — considerado tão perigoso que políticos de outros partidos se recusavam a se envolver com seus membros.

Uma mudança profunda neste sentido ficou aparente neste mês: O RN, como o partido é conhecido por suas iniciais em francês, dominou as eleições para o Parlamento Europeu, esmagando o partido do presidente Emmanuel Macron e conquistando um terço dos votos na França. Logo em seguida, Macron convocou eleições legislativas antecipadas para a Assembleia Nacional — com pesquisas sugerindo que o Reagrupamento Nacional está posicionado para vencer também essas eleições.

Jordan Bardella, presidente do partido, está manobrando para se tornar o próximo primeiro-ministro do país — algo que, apenas 10 anos atrás, seria impensável. Ele enfrentou dois adversários, incluindo o atual primeiro-ministro Gabriel Attal, em um debate muito aguardado na noite de terça-feira, pintando uma visão sombria do estado do país e focando na imigração ilegal, criminalidade e aumento dos custos.

Se seu partido conseguir uma grande vitória nas eleições, Bardella, com apenas 28 anos, poderá se tornar primeiro-ministro, nomear membros do gabinete e atrapalhar grande parte da agenda doméstica de Macron, que ainda definirá a política externa e de defesa.

Fundador abertamente racista
Originalmente chamado de Frente Nacional, o partido foi fundado em 1972 como braço político da Nova Ordem, cujos membros acreditavam que a democracia estava condenada ao fracasso. Incluía ex-soldados nazistas, colaboradores do regime de Vichy e ex-membros de uma organização terrorista que realizava ataques para impedir a independência da Argélia do domínio colonial francês.

Sua plataforma defendia a restauração dos valores familiares conservadores e o combate ao comunismo. Mais tarde, tornou-se ferrenhamente anti-imigração.

O presidente fundador do partido, Jean-Marie Le Pen, era abertamente racista, afirmando que as raças “não têm as mesmas habilidades, nem o mesmo nível de evolução histórica”. Ele foi repetidamente condenado por fazer comentários antissemitas e minimizar publicamente o Holocausto, chamando o assassinato de judeus nas câmaras de gás de um “detalhe” da história.

Postura anti-imigração
Embora o partido tenha mudado — por exemplo, eliminando seu antissemitismo — ainda vê o ser francês, ou a francesidade, como uma etnicidade e faz uma clara demarcação entre nativos e não nativos. Argumenta que os cidadãos franceses devem ter prioridade sobre os residentes não franceses em áreas como benefícios sociais, moradia subsidiada e tratamento hospitalar, embora muitos estudiosos afirmem que isso contraria a Constituição francesa e os ideais republicanos.

— A Constituição diz que você pode se tornar francês se concordar e respeitar as leis e o legado do iluminismo, liberdade de expressão, direitos civis para todos — disse Jean-Yves Camus, co-diretor do Observatório de Políticas Radicais da Fundação Jean-Jaurès. — Ser francês não é uma etnicidade. São valores.

Por décadas, outros partidos políticos formaram uma “frente republicana” — apelando aos seus membros para votar estrategicamente contra o RN. O exemplo mais famoso foi em 2002, quando Le Pen chegou ao segundo turno das eleições presidenciais e os partidos de esquerda pediram aos seus membros que votassem em seu oponente conservador, Jacques Chirac. Chirac foi eleito de forma esmagadora, e Le Pen obteve menos de 18% dos votos.

Nos últimos anos, essas estratégias se desgastaram à medida que o partido ganhava cada vez mais apoiadores, em parte devido às mudanças no país e à mudança de imagem do partido.

 

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